segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Autora: Jéssica Câmara Siqueira





Muito já foi escrito sobre mim e até em meu nome, mas foram raras as vezes que tive realmente voz. Mas quero aqui nessas Lembranças mostrar meu outro lado. Meu desejo mais honesto nessas lembranças é de ser ouvida como nunca fui antes. Não quero porta-vozes do que vi e senti das experiências humanas. Acredito que minhas palavras bastarão. Espero que com minhas lembranças você possa me enxergar de modo diferente. Para isso, descortine seus preconceitos e estereótipos sobre mim. Tente olhar-me como se fosse a primeira vez. Prazer, eu sou a Morte...






Livro: Lembranças da Morte
Gênero: Ficção













(Um pouco do livro)





A Loucura é matreira. Para uns oferece pequenas doses, suficientes para que a pessoa consiga seus caprichos. Mas para outros, ela invade de tal forma o inconsciente que o indivíduo perde-se em seus fracassos, medos e enfim rende-se a mim, uma desconhecida salvadora”.

Certamente já devem ter ouvido falar das irmãs Brontë, novelistas e poetisas do século XIX, que tiveram suas obras recontadas em peças, óperas, filmes e documentários. Mas talvez conheçam pouco sobre a família Brontë, em especial seu patriarca, Patrick. É a partir de sua perspectiva que contarei a história de sua família”.

Há ligações humanas que realmente me inquietam. Não que as pessoas não possam estar conectadas umas às outras. Presencio isso corriqueiramente, mesmo que muitos não acreditem nisso. Mas há laços que se estendem para além da vida, e que muitas vezes se intensificam mais ainda depois da morte. A história que vou contar é sobre um laço assim, entre duas irmãs. Irmãs muito especiais: gêmeas univitelinas”.






(Prólogo)



   Muito já foi escrito sobre mim e até em meu nome, mas foram raras as vezes que tive realmente voz. O fato de existir inexoravelmente para qualquer ser vivo pode dar a falsa impressão de eu ter algum poder sobre eles.       Na verdade meu papel é bem breve e pontual. Depois que cumpro meu dever geralmente sou esquecida. Não sou desejada, nem amada como minha irmã Vida. Por mais agruras e sofrimentos que se tenha o homem sempre prefere à Vida. Para a maioria das pessoas ela é 
a dádiva, e eu a maldição. Mas quero aqui nessas                Lembranças mostrar meu outro lado. Estou farta de ser rotulada como uma criatura vil, impiedosa e abominável. Na verdade o homem não me conhece até o momento de minha chegada. Ele vive na expectativa frustrante de querer me evitar. Sabe que sou uma de suas poucas certezas, e mesmo assim quando não me teme simplesmente me Vivo um momento difícil nessa sociedade contemporânea. Antes, mesmo sendo temida, era respeitada. As pessoas velavam seus mortos, cultuavam o luto, rezavam pelas almas do outro lado. Mesmo que me estereotipassem com imagens bizarras ainda preferia isso, pois elas ao menos me olhavam. Quando alguém adoecia e estava sentenciado a mim, era cuidado pelos seus familiares, que o acompanhavam até minha chegada. Tinham sonhos premonitórios com a minha chegada e criavam historias fantásticas para s crianças tentarem entender os mistérios que me rodeavam. Mas agora tudo mudou!     As pessoas fingem não me ver. Abandonam seus doentes nos hospitais para morrerem na solidão. Amortizam seu luto consumindo produtos que camuflam sua dor. Dor? As pessoas mascaram sua dor com pílulas de felicidade. Fui banida da sociedade e colocaram no meu lugar uma noção oca de felicidade a todo custo. A Felicidade também está insatisfeita em seu castelo de cristal, a substituíram por um esboço mal feito de linhas inseguras, facilmente apagáveis. As pessoas hoje só se lembram de que existo quando chego perto de alguém próximo ou quando sou escancarada pela mídia como resultado de uma violência ou ato vil. São os homens que cometem tais atos. São eles que decidem estuprar, assassinar, balear, afogar, torturar, sufocar... Na verdade esse lampejo de dor derradeira ainda está presente na Vida.                         Quando chego, toda a dor corporal já cessou. Não cuido da matéria, isso é privilégio de minha irmã. A mim, caso você não saiba, resta a missão de conduzir a essência de seu ser para seu Destino.
   Portanto, contrário ao que a maioria acredita, não sou a portadora de seu fim. Na verdade sou simplesmente aquela que faz a travessia, conduzindo-o para o outro lado. 
 Depois desses breves esclarecimentos acho que posso começar meus relatos. Meu intuito aqui é apenas partilhar com você um pouco do que realmente sou a partir das histórias que vivenciei. Pretendo não levantar bandeiras, nem apontar caminhos. Não tenho a pretensão de salvar ninguém com minhas palavras. Meu papel não é o de salvar ou condenar ninguém, apenas conduzo para um novo caminho. 
  Meu desejo mais honesto nessas lembranças é de ser ouvida como nunca fui antes. Não quero porta-vozes do que vi e senti das experiências humanas. Acredito que minhas palavras bastarão. Espero que com minhas lembranças você possa me enxergar de modo diferente.    Para isso, descortine seus preconceitos e estereótipos sobre mim. Tente olhar-me como se fosse a primeira vez.   Prazer, eu sou a Morte. Prometo que depois dessas histórias você perceberá que sou bem melhor do que imagina.




(Autora Jéssica Câmara Siqueira)






(Escritor, poeta e produtor cultural)

Palavras de André Lima



O Livro Lembranças da Morte, é muito extraordinário. Como nossa autora já diz, nós só damos conta da morte, ou damos importância a ela, quando estamos quase para chegar ao final de nossa dor carnal. Com toda certeza, devíamos viver e intender a morte como algo diferente. Este livro me fez intender mais um pouco sobre a morte. Para quem gosta de livros, uma ótima leitura...


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